terça-feira, 24 de junho de 2014

Diário de Bordo- Os argentinos Parte II

Nos dias em que recebemos no Brasil a visita dos argentinos vimos mais deles até mesmo do que quando visitamos o país vizinho. Na ocasião eu, o Gordo, o Michel e o Guille fomos até lá mais uma vez movidos pelo futebol. Em 2009 assistimos um Brasil x Argentina na cidade de Rosário. Era a nossa primeira viagem internacional e o primeiro jogo do Brasil que veríamos. Já estávamos ansiosos por todos os fatos que envolvem esse clássico Sul-Americano, mas um imprevisto tornou o jogo ainda mais marcante do que poderíamos prever.

Apesar de o jogo ser em Rosário nós estávamos hospedados em Buenos Aires e para ir até o jogo tínhamos uma van. Quando chegamos na cidade que receberia a partida percebemos que o jogo não seria somente no estádio, mas começava nas ruas, com a torcida argentina vibrando em cada esquina com seus cantos fervorosos, enquanto nós, dentro da van, nos escondíamos com a camisa do Brasil (exceto eu, que vestia Corinthians).

Tentando disfarçar nossa brasilidade colocamos blusas por cima das camisetas. O motorista nos deixou um pouco longe da nossa entrada. Conseguimos o ingresso do Gordo em um local próximo ao nosso e tentamos encontrar nosso portão, mas curiosamente não vimos nenhum brasileiro no trajeto.

Quando fomos entrar no estádio do Rosário Central a “revista” foi um pouco fora do comum. Ela não existiu.

O Michel, que estava na minha frente, levantou os braços, como geralmente fazemos nos estádios brasileiros, e o segurança apenas balançou a cabeça e o mandou passar sem nem encostá-lo. Na minha vez eu fiz o mesmo e ele, com um sorriso, apenas exclamou: “¡brasileño né!”.

Chegando ao nosso lugar, percebemos o que havia de errado. Nossos ingressos eram para a torcida argentina.

O lugar onde deveríamos estar era exatamente o oposto de onde estávamos. Fomos conversar com o segurança para ver se poderíamos passar para o outro lado. Quando ele viu a camisa do Michel, arregalou os olhos e disse que deveríamos ir para lá imediatamente.

O estádio era dividido por setores e passamos por todas as barreiras, menos a última. Acreditamos até hoje que nessa última fase, onde eram os camarotes, havia alguém muito importante, Cristina Kirchner, por exemplo.

Cabisbaixos, voltamos aos nossos lugares. Se tínhamos que ficar ali então que fosse.

No intervalo eu e o Michel decidimos comer algo, mas não sabíamos o que, nem como pedir. A estratégia foi ouvir os outros e imitá-los. O Michel ficou na fila e quando chegou sua vez pediu “una hamburguesa”, que o atendente disse que não tinha mais. Com as mãos pediu que esperasse e viu que agora os argentinos solicitavam “un Choripán”. Nesse meio tempo eu, atrás dele, estava agoniado, por que a sua camisa amarela caía por debaixo da bermuda. Voltamos, intactos, aos nossos lugares.

No segundo tempo a torcida argentina se inflamou para empurrar o time. Todos se ergueram nas arquibancadas, menos nós. Uma mão me puxou para que eu também levantasse. Atendi o pedido da mão misteriosa. Quando o Brasil marcou um gol o dono da mão se mostrou e me perguntou: “¿Estás contento, tico?”. Com cara de quem não entende, emiti um “Hã?”. A pergunta se repetiu e bolei um plano infalível. Respondi com um “What?”. Meu plano falhou, mas pelo menos ele deu risada.

Na saída passamos por uma barreira policial que continha os argentinos, em que o Guille quase foi barrado.

Depois de todo o aperto veio o alívio. Estamos vivos até hoje e podemos fazer esta outra grande viagem e assistir muitos outros jogos.

Ah, o resultado do jogo foi 3 x 1 para o Brasil. Pena que não pudemos comemorar.

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