quinta-feira, 29 de maio de 2014

A ocasião...

Não a vi direito quando foi.

Só vi passando em minha frente quando soltava a fumaça.

Tenho um certo ritual mecanizado para fumar. Seguro o cigarro com a ponta dos dedos indicador e médio da mão direita. Levo-o à boca no canto esquerdo. Há quem diga que tenho uma marca nos lábios em que o cigarro se encaixa. Quando puxo a fumaça o solto dos dedos e quando termino a aspiração o filtro volta ao seu local inicial. Depois do trago a fumaça sai pelo canto direito.

Foi nesse momento que passou e me viu.

Deu mais uns passos e voltou. Me perguntou se poderia falar uma coisa e, como nem sempre gosto de ouvir coisas, respondi que “talvez”.

Falava apressada e demonstrava certo desespero.


- Eu não vou mentir pra você (logo, pressupõe-se que para outra pessoa ela mentiria) eu faço programa e moro aqui perto. Ontem não consegui fazer nenhum programa (talvez a culpa seja do frio de Curitiba) e não tenho dinheiro nem para almoçar (já era magra por ser magra e sem almoçar ficaria ainda mais magra).

Não era bonita, como a Malu Mader, mas também não era nenhuma Ingrid Guimarães. Estava mais próxima da Silvia Pfeifer.

- Eu não sou daqui. Sou de Paranavaí e sem dinheiro para comer não consigo fazer nada (e sem fazer nada ficaria com menos dinheiro e faria mais nada e comeria menos e....dízima periódica). Tô tentando arrumar dinheiro para pegar uma marmita pra comer. Cê pode me ajudar?

Poderia me aproveitar da situação e propor uma troca da carne pela carne. Eis a minha oportunidade de ganhar algo com a injustiça social. É isso que os vencedores fazem.

Segurando o cigarro com a boca peguei na carteira todas minhas moedas (a economia da rua se baseia em moedas). Em sua mão minhas moedas se juntaram a outras amigas moedas e uma nota de dois reais.

Depois de agradecer ela se foi de novo.

Pensei que com dois reais ela já poderia comer. Dois reais compram uma coxinha, especialmente aqui na região do terminal do Guadalupe onde a gastronomia está longe de ser gourmet. Mas talvez sua fome precisasse de mais que uma coxinha.

O seu desespero, sua fala rápida e sua magreza poderiam mostrar a necessidade por pedra e não pelo que relatou.

Me comoveu a moça.

Sua narrativa e interpretação levaram meu dinheiro. Não sei pra onde.

terça-feira, 6 de maio de 2014

Bom dia

Sua buceta boceja quando o dia se faz.

No cômodo comum a todos ela entra devagar por debaixo da coberta até desaparecer do mundo e aparecer para ele.

Tateou seu pênis, tirou para fora com delicadeza e cuidado para que não acordassem. Um cheiro desagradável subiu, mas não se importou. Estava determinada a lhe dar um dia especial.

Engoliu para abafar o cheiro. Limpou-o com sua boca recém-escovada.

Acordou. Levantou a coberta para certificar-se de que não era um sonho.

Fez um sinal de silêncio substituindo seu dedo indicador pela piroca.

Segurando com seus finos dedos foi lambendo da base à cabeça de maneira desapressada. Quando alcançava o cume sua língua fazia movimentos circulares sobre a glande.

Com o pau já acordado ela passou a testar os limites da sua garganta. Aconchegava a jeba em sua quente boca.

Passou às bolas e enquanto as engolia o masturbava lentamente.

Ele levantava a coberta e arrumava o cabelo para poder olhar os seus olhos verdes, escurecidos pelo cobertor.

Quando a olhava, ela esfregava a cabeça vagarosamente em seus lábios.

Ela deixou de usar as mãos. Basqueteava em sua rola sem apoio, usando apenas a força do desejo.

Quando seu pescoço começou a doer, decidiu partir para o fatality. Com movimentos rápidos ia de cima a baixo. Subia para descer como uma montanha russa.

Parou quando sentiu a primeira esporrada.

Fez o sobe-desce mais duas vezes e pressionou a cabeça com seus lábios para tirar a última gota.

Dominado pelo tesão ele estica o corpo. Os dedos dos pés apontam para o horizonte.

Deu um beijo de despedida na ponta da pica.

Levantou, arrumou o cabelo, pegou a bolsa e foi trabalhar.

O mendigo ficou deitado mais um pouco, aguardando que alguém o expulsasse da marquise.