quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Um estranho ninho

Sua simples presença era um evento. Quando passavam por ele cutucavam-se e o apontavam com os olhos e o nariz. As crianças puxavam a barra do vestido ou da calça de seus responsáveis para saber o que aquele rapaz fazia ali.

O olhavam como se fosse de outro mundo, mas estava em outro mundo apenas temporariamente. Ele não se importava com o que acontecia ao seu redor.

Estava tão concentrado que não olhava para os outros e nem para si. Não percebia sua própria aparência. Cabelo desgrenhado, bermuda, chinelo e uma camisa ex-branca. Era uma afronta estar trajado daquela forma em um local com pessoas vestidas casualmente embonecadas.

Não bastava estar daquele jeito. Ele ainda tinha um livro. Deveria estar na praça em frente ao shopping, no espaço público que abriga aqueles que não tem espaço privado. Não podia estar ali, no meio do templo do consumo sem nada consumir. E lendo.

“Tem um rapaz lendo na praça de alimentação”. Em instantes o boato correu o shopping inteiro. Até pessoas de fora entravam para ver aquilo. Em pleno dia de jogo e ele ali, com um livro.

E era um livro de verdade, sem tela. De papel como aqueles de antigamente.

Após uma hora a novidade já esfriava. Alguns já se conformavam. “É um louco”.

Ele então se espreguiça e coloca uma mão em cada bolso. De um retira um cigarro e do outro um isqueiro. Acende e antes de dar o primeiro trago surge um segurança.

Com tantos olhos e celulares em volta o segurança, com esforço, é obrigado a usar a educação. Pede que apague aquilo e em voz alta o questiona:

- Você não viu o aviso bem na sua frente?

A resposta faz com que todos suspirem aliviados.

- Desculpa senhor. Não sei ler.

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