sexta-feira, 16 de março de 2012

Os Três Pedidos ou Outro Estágio

Era grossa, estúpida e sádica. Não media esforços alheios para a empresa crescer e dizia que os funcionários deveriam “vestir a camisa”.

Alguns diziam ter dó, que toda maldade era vinda da vida amarga. Era solteira, sozinha e solitária. Não gostava de crianças ou cachorros (e nem de gente). Ainda assim trabalhava justamente com pessoas, supostamente fazendo bem a elas, nem que para isso moesse os funcionários como em uma máquina de carne.

Enquanto o baixo clero deveria estar cedo e a todo vapor no trabalho, chegava diariamente de ressaca. Devia beber muito, tinha muita mágoa para afogar.

Sempre deixava claro que ela quem mandava. Andava pela empresa como um vigia. Ao vê-la todos engoliam palavras, sorrisos e as boas vibrações. Uma nuvem negra parecia a acompanhar.

Apesar disso tinha um discurso de unificação e amizade fora da instituição. Era a principal agitadora de festas, comemorações e afins. Socializando, parecia até simpática. Em seu aniversário fez questão que todos fossem. E lá estavam. Mais por obrigação que por consideração.

Enquanto alguns vinham e iam, Ale, o estagiário mais novo ficava. Sentia-se bem por se enturmar tão rápido.

Sobrou apenas a chefe e ele. Pela fama ele carregava certo medo, mas àquela hora, bêbados, a conversa fluía bem. Ainda assim ele buscava manter a formalidade. Ela não.
- Posso te pedir uma coisa?
- Claro chefe.
- Melhor. Duas e dependendo da resposta mais uma. Pode ser?
- Sim.
- Não me chama de chefe. Me chama de Ma.
- Sim. Claro. Desculpa Ma. E o que mais?
- Me dá um beijo.

Ao terminar de falar ela agarrou o franguinho. Com vontade. Meio tímido foi abraçando-a de leve. Apesar de ter gostado, ficou totalmente sem jeito. Ela agradeceu. Com um sorriso ele respondeu: “Qué isso. Eu que agradeço”.

O beijo quebrou a conversa que levavam. Sem rumo, a cabeça dele dava voltas na busca por um assunto, que parecia ser obrigatório. Quanto mais tempo passava mais sentia a necessidade de falar algo.

Não se tratava de um gênio, mas havia mais um pedido. Perguntou qual era. Sorrindo, ela levou os lábios próximos ao seu ouvido e disse que depois faria.

Beijos, cerveja e conversa se passaram e o bar ia fechando. Como quem não quer nada, garçons colocavam as cadeiras sobre as mesas. A empolgação trazida pela situação e pelo álcool fez com que ela o convidasse a ir até sua casa. Próxima, com cervejas e carona (sabe comé vida de estagiário né!?) a casa da chefe pareceu sedutora, tanto quanto a própria.

Sentaram-se no sofá e as cervejas lubrificavam a longa conversa ideológica. Não querendo parar o diálogo, pois isso poderia significar uma nova falta de assunto, segurou a urina mas não resistiu.
Ao lavar a mão olhou-se no espelho e sussurrou: “Aaaaaah muleke. Cê é foda hein!? Acabou de entrar no trampo e já tá pegando a chefe”.

Na volta não a encontrou na sala. Ela surgiu do corredor trajando apenas uma calcinha branca. Apesar da podridão interna tinha um belo corpo, que se revelava enquanto vinha em sua direção. Olhava-a sem reação. Sentou-se de frente em seu colo e quebrou com beijos a hipnose por ela mesma causada.

Pegou sua mão e o levou para o quarto. Tirou sua roupa. Ela controlava a situação como fosse a primeira vez de um virgem com alguém experiente (e talvez fosse). Com a voz baixa veio o terceiro pedido: “Me bate”.

O favor veio inicialmente com tapas tímidos até ela gritar: “Mais forte!”. Pegou sua mão e fez com que puxasse seu cabelo.

Puxou, bateu, xingou e agora ele quem ditava as ordens, assim como era o desejo dela: inverter os papéis, ser tratada com submissão, como cachorro(a).

No dia seguinte mal conseguia sentar. Estava realizada, mas jamais iria sorrir ou demonstrar isso no trabalho. Um mês depois Ale foi demitido. Nunca mais se viram. Um novo estagiário vem aí.

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