quinta-feira, 16 de abril de 2009

Cigarro Curitibano

Comprei um solto (to tentando parar) e fui até a praça pra fumar. Fiquei olhando as pessoas procurando alguém que estivesse fumando. Um senhor mal encarado. Um casal. Um cara sujo, mas bem vestido. Uma menina falando ao telefone. E finalmente um carrinheiro fumante. Peço o isqueiro emprestado. Acendo e seguindo a regra de todos os outros curitibanos dali sento em um banco sozinho.
Fumo devagar, curtindo. Enquanto observo a praça e as pessoas fico pensando na vida, na mina e na peça que acabo de perder por chegar atrasado. A noite não estava fria, tinha uma brisa, mas tava maneira.
O cigarro estava chegando ao fim, na terceirinha, como chamava-mos na cadeia, quando o cara sujo mas bem vestido levanta-se. Antes de seguir seu rumo me olha e volta. Eu já sabia o que ele iria pedir.
- Tem um cigarro aí!?
- Puts cara. Pior que não tenho. Comprei esse aqui só. Foi mal.
Ele abaixa a cabeça como quem dá um breve cumprimento e sai. Achei estranho aquele cara. Ele não era um morador de rua. Estava bem vestido de acordo com os padrões da sociedade, mas estava sujo. E não era sujeira de trabalho, era sujeira da rua. Mas não era um morador de rua (aparentemente). Ele tomava uma garrafa de refrigerante (e aparentemente era mesmo refrigerante). Meu instinto de jornalista (parecido com o do Peter Parker) me diz que preciso averiguar. Resolvo chamá-lo.
- Hey.
Ele olha e levanta rapidamente a cabeça como quem diz “que quê foi?”.
- Chegaí.
Desconfiado ele vem até mim.
- Sentaí, vamo troca uma idéia.
Ainda ressabiado ele senta.
- Cê mora onde?
- Tô dormindo numa marquise ali perto do Passeio Público.
- Mas faz tempo que cê mora ali?
- Duas semanas.
- E antes? Morava onde?
- Lá no Sitio Cercado.
- E por que ta ali agora?
- Perdi o emprego e não tive grana pra pagar o aluguel, que já tava atrasado. Agora tô aí na rua.
- Pode crê.
- ...
- ...
- Crise né!?

- Pior que é.
- ...
- ...
- ...
- Tem um cigarro aê?
- Puts cara. Pior que não tenho. Comprei só um. Foi mal.
E foi-se embora.

2 comentários:

Anônimo disse...

Ótimo Fogo. Gosto muito das tusa palavras e me diverti bastante com este texto tão curitibano. Beijo. Zaclis

Cabes disse...

Total Curitibano!
E nem pra oferecer a terceirinha, pra ajudar na tentativa de largar o ciga!
É fogo!